Aeróbica + ioga = pilates
Como velhas tendências vestem leggings novas (e por que isso deveria importar para a gente)
A ideia deste texto nasceu de um momento nos stories da professora Jana Rachno (@jana_rachno), que ficou martelando na nossa cabeça. A Jana compartilhou uma reflexão sobre como o movimento está virando cada vez mais um “produto” – mudam os nomes, as promessas e o visual, mas os nossos corpos continuam os mesmos, regidos pelas mesmas regras básicas, testadas há décadas.
Então vamos olhar um pouco para essa “moda do movimento”. Não para eleger um vencedor entre aeróbica, ioga e pilates, mas para lembrar onde fica a pessoa no meio disso tudo. E que papel um sistema como o Zenamu pode – e não deve – assumir nessa história.
Quando a fita cassete mudou o mundo: a era da aeróbica
No começo dos anos 80, bastava apertar o “play”. Jane Fonda de collant colorido, um toca-fitas, e a sala de estar virava sala de aula de ginástica. O vídeo Jane Fonda’s Workout, de 1982, virou um ícone – nos anos seguintes, a série vendeu cerca de 17 milhões de cópias no mundo todo,1 mudando não só o treino em casa, mas até o mercado de videocassetes.
A aeróbica tinha uma magia muito simples:
- era barata,
- acessível para quase todo mundo,
- e, acima de tudo, cheia de alegria e energia.
Depois aconteceu algo que a gente vê até hoje no mundo do fitness: quando uma tendência explode, todo mundo começa a ensinar aquilo. A qualidade das aulas fica irregular, a autenticidade se dilui, muita gente se frustra… e a atenção coletiva, aos poucos, escorrega para outra coisa.
Ioga: da prática espiritual ao lifestyle business
A próxima grande onda veio do lado oposto do espectro. A ioga foi saindo da margem para o centro: de “coisa de gente estranha em cima de um tapetinho” para uma categoria completa de lifestyle.
Os números confirmam isso. Segundo a Future Market Insights, o mercado global de ioga em 2024 está na casa de US$ 119 bilhões e pode chegar a US$ 288 bilhões até 2034.2
Outro relatório, da Expert Market Research, estima o mercado de ioga em cerca de US$ 115,43 bilhões em 2024, com crescimento anual previsto em torno de 9%.3
Na prática, isso se traduz em:
- estúdios sofisticados nas grandes cidades,
- tapetes e roupas de ioga com design,
- retiros e finais de semana “yoga & brunch”,
- espiritualidade incorporada ao discurso da marca.
Nada disso é “errado” por definição. Mas é interessante perceber que até a tal “jornada para dentro” virou, em certo momento, um produto – algo que pode ser embalado, fotografado e vendido. E quando literalmente todo mundo começa a dar aula, o mesmo problema reaparece: uma parte da profundidade se perde.
Pilates e reformer: a nova estrela (com preço premium)
Aí entra em cena o próximo protagonista: o pilates, especialmente na sua versão “instagramável” no reformer. Linhas limpas, paredes brancas, fileiras perfeitas de aparelhos, vídeos em câmera lenta de corpos “long & lean”.
Do ponto de vista de negócio, faz todo sentido:
- o estúdio investe pesado em equipamentos,
- consegue praticar um valor mais alto por aula,
- cria-se a sensação de uma experiência de luxo, que se vende muito bem.
E não é só impressão. Segundo dados da Sports & Fitness Industry Association, citados por revistas como a Women’s Health, o pilates se tornou a modalidade de treino que mais cresce nos Estados Unidos: entre 2019 e 2023, o número de praticantes aumentou em quase 40% (de 9,2 para 12,9 milhões), enquanto a ioga cresceu “apenas” 23,6%.4
Nos relatórios da Les Mills, as aulas de pilates e os treinos tipo “sculpt” aparecem como algumas das maiores estrelas dos últimos anos – graças à combinação de força, mobilidade e aquele forte efeito “feel good”, que conversa especialmente com as gerações mais jovens.5
Resumindo: o pilates está surfando hoje a mesma onda que levou a ioga lá para cima alguns anos atrás. A estética e o vocabulário mudaram, mas a lógica é muito parecida.
Dados em vez de mantras: longevity, biohacking e “saúde científica”
Quando o discurso espiritual começa a cansar, entra um novo vocabulário: dados, longevity, neuroplasticidade, biohacking, evidence-based.
“Não queremos mais papo espiritual, queremos dados.”
E, junto com isso, aparecem:
- relógios e pulseiras inteligentes com gráficos de variabilidade da frequência cardíaca,
- programas de longevity de 12 semanas,
- banhos gelados, painéis de infravermelho, suplementos “para tudo”,
- treinos que prometem “X% de sono melhor” ou “Y anos a mais de vida saudável”.
De novo: ciência é maravilhosa. Dados são importantes. Mas quando a nossa saúde vira principalmente um produto de investimento, fica muito fácil cair em mais uma corrida atrás do “plano perfeito” e do “melhor protocolo” – em vez de voltar ao básico: como eu me sinto hoje, dentro do meu corpo?
O que os números mostram: fitness como negócio global
Se deixarmos de lado as histórias pessoais e olharmos só para os dados de mercado, o cenário é mais ou menos este:
- O mercado global de health & fitness clubs (academias, estúdios, centros de bem-estar) foi avaliado em cerca de US$ 112,17 bilhões em 2023, e pode chegar a mais de US$ 202,78 bilhões até 2030.6
- O segmento de estúdios de pilates e ioga é estimado em cerca de US$ 161,98 bilhões em 2024, com projeção de crescimento até US$ 430,87 bilhões em 2034.7
- O pilates aparece, nos dados mais recentes, como a modalidade de treino que mais cresce, enquanto a ioga mantém uma base de praticantes muito forte e estável.47
Ou seja: não, a ioga não está morrendo. E a aeróbica não desapareceu.
A gente só vive em um tempo em que a atenção se move em ciclos – e a cada alguns anos surge uma disciplina “nova-velha”, com embalagem nova, promessas novas e uma etiqueta de preço nova.
O que a gente, de fato, leva dessas ondas todas?
Quando a gente tira a camada de marketing e olha só para a essência, sobra algo surpreendentemente simples – e justamente por isso valioso:
- Da aeróbica, fica a alegria da música, do ritmo e do grupo – aquela sensação de ser carregado pela energia da sala, mesmo depois de um dia puxado.
- Da ioga, ficam a respiração, a calma e a capacidade de “ficar consigo mesmo”, mesmo quando lá fora tudo faz barulho.
- Do pilates, fica o aprendizado de perceber os detalhes, estabilizar a musculatura profunda, trabalhar com precisão e consciência.
Essas qualidades não pertencem a uma tendência específica. Elas só são vendidas em embalagens diferentes de tempos em tempos.
O problema não começa na escolha entre tapete, aparelho ou tênis de corrida. Começa quando a aula vira apenas um “slot na agenda” que precisa ser preenchido, e a pessoa que ensina vira um “produto”, que deve entregar uma experiência perfeita sob demanda.
Onde o Zenamu entra nessa história
Aqui chegamos ao que o Zenamu faz – e ao que, por escolha, não quer fazer:
não queremos decidir qual tendência é a “certa”.
No nosso sistema, convivem tranquilamente:
- uma aula de ioga à noite em um centro comunitário,
- um estúdio premium de pilates reformer,
- um treino de força cedinho, em uma academia pequena,
- um curso de saúde da coluna para pessoas idosas,
- aulas de dança para crianças.
Para o Zenamu, tudo isso são, tecnicamente, tipos de aula diferentes na base de dados. O que importa de verdade acontece entre:
- a pessoa que conduz a aula e as pessoas na sala,
- o movimento e o corpo,
- a intenção e a realidade vivida.
O nosso papel é garantir que:
- montar o cronograma de aulas leve minutos, não noites em claro,
- os clientes consigam encontrar e reservar uma aula sem atrito,
- cancelamentos, listas de espera, pagamentos e planos de assinatura não doam mais do que o próprio treino,
- o estúdio tenha clareza nos números, sem perder a alma no processo.
Em outras palavras: o Zenamu quer ser um backstage sólido – não a estrela do palco.
Seu corpo não precisa de mais uma “tendência”. Precisa de atenção.
Quando a gente deixa de lado o marketing, as planilhas e os gráficos, sobram algumas perguntas muito simples, mas bem sinceras:
- Eu percebo como respiro quando me movimento?
- Eu saio da aula com a sensação de que é um pouquinho melhor viver dentro deste corpo?
- Esse tipo de movimento me ajuda a viver o dia a dia com mais qualidade, ou é só mais um item na lista de coisas a cumprir?
- Eu treino por mim – ou pelo que está bombando no Instagram agora?
Na prática, o nome importa pouco. Em uma fase é aeróbica, na outra é “power flow”, depois é pilates sculpt. Para o corpo, é sempre a mesma coisa: um encontro com o movimento, a respiração e a atenção.
Saúde, no fim das contas, não dá para comprar como um produto único. Só dá para viver, em passos pequenos, muitas vezes invisíveis. Aula por aula. Respiração por respiração.
E se a gente, no Zenamu, puder ajudar justamente nisso – cuidando das inscrições, dos pagamentos e do cronograma para que sobre mais energia para o que realmente importa, as pessoas na sala e o seu próprio corpo – então tudo isso faz sentido para a gente.
Fontes
Footnotes
-
Jane Fonda's Workout – estimativas de vendas (cerca de 17 milhões de cópias), por exemplo Wikipedia – Jane Fonda's Workout e matérias como Vogue: Jane Fonda's Workout From 1982 Is Still the Best Exercise Class Out There. ↩
-
Future Market Insights – Yoga Market Size & Trends 2024–2034. ↩
-
Expert Market Research – Yoga Market Size, Share, Growth, Trends, Report 2034. ↩
-
Women’s Health – Pilates Is The Fastest Growing Workout Modality, For Good Reason, citando dados da Sports & Fitness Industry Association (SFIA). ↩ ↩2
-
Les Mills – por exemplo Top 6 Fitness Trends for Clubs in 2023 e Fitness in Focus: 6 Things We Learned in 2023. ↩
-
Fortune Business Insights – Health and Fitness Club Market – Infographic e o relatório Health and Fitness Club Market Size, Share & Growth. ↩
-
Polaris Market Research – Pilates & Yoga Studios Market Size, Share & Report e comunicados com projeções de mercado até 2034. ↩ ↩2
